por

Danilo Igliori

Paula Zogbi
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Publicado em
5/11/2025
Começamos o mês de outubro com forte convicção no mercado de mais dois cortes de juros em 2025: as apostas em uma Fed Funds Rate entre 3,5% e 3,75% em dezembro chegaram a passar de 90%. Mas o Fed “jogou água no chope” em relação a essas expectativas, relembrando que a única certeza no mercado é a incerteza.
Na entrevista após a reunião do banco central americano (Fomc), em que cortou a taxa de juros para o intervalo entre 3,75% e 4,00%, o presidente J Powell destacou que o balanço de riscos e a ausência de dados, em meio a um shutdown do governo, não deixa espaço para cravar um novo passo no afrouxamento monetário em dezembro. Além disso, notou que a inflação continua insistentemente acima da meta, dificultando a tomada de decisão em meio a evidências de um mercado de trabalho em desaceleração.
No campo geopolítico, as idas e vindas das negociações comerciais entre Estados Unidos e China se destacaram, e foram da água para o vinho ao longo do mês, passando da ameaça de novas tarifas muito elevadas para uma trégua ampla após a histórica primeira reunião presencial entre os presidentes dos dois países. O desdobramento foi recebido como um movimento temporário e não uma resolução definitiva, mas reforçou expectativas de crescimento econômico moderado, ao afastar parte dos temores de consequências mais agudas de uma guerra comercial.
Enquanto isso, os resultados corporativos continuam mostrando crescimento resiliente para as companhias americanas, acima das expectativas em sua maioria, sustentando o otimismo com a Bolsa. Para alguns nomes entre as gigantes de tecnologia, que correspondem a cerca de 30% do S&P500, os gastos elevados (e crescentes) ligados a iniciativas de IA preocuparam acionistas ansiosos por resultados financeiros concretos que justifiquem tamanho investimento. O setor apresentou ganhos sustentados ao longo do mês, mas parte dos papéis perdeu força após a bateria de divulgações.
A renda fixa, sensível a incertezas relacionadas às expectativas para os juros, apresentou volatilidade nos títulos soberanos. O crédito privado high yield (com maior grau de risco) viu diminuição nos spreads, refletindo o apetite ao risco em meio a um ambiente de expectativa de crescimento saudável da economia. E até mesmo o ouro, que vinha num movimento de valorização praticamente constante, passou por momentos de vendas acentuadas (“selloff”), mas manteve-se firme no acumulado do mês, ainda comportando-se como a alternativa favorita de governos, investidores institucionais e pessoas físicas como reserva de valor.
Para novembro, mantemos a visão de que a economia americana oferece oportunidades em um ambiente de crescimento sustentável, ao mesmo tempo em que reconhecemos a necessidade de manter uma diversificação estratégica para evitar concentração excessiva, já que há riscos relevantes no radar.
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Danilo Igliori
Economista-chefe da Nomad. Professor do Departamento de Economia da FEA-USP, PhD pela Universidade de Cambridge. Foi um dos fundadores da DataZAP, no Brasil já atuou em empresas como BTG Pactual, Unibanco, Vale, Grupo Zap e OLX, e atuou como consultor em agências internacionais (Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Paula Zogbi
Estrategista-chefe da Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.