Temático | Resultados corporativos 1T25: as boas e as más notícias e o que esperar

por

Nickolas Lobo

7min

-

Publicado em

24/6/2025

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A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25) pode ser lida não apenas como forte, mas um evento que desafiou e superou amplamente o ceticismo do mercado. Em linhas gerais, a narrativa central é de um crescimento de lucros robusto, mas concentrado, superando as estimativas de forma expressiva. O crescimento consolidado de 13,4% nos lucros ano a ano representa o segundo trimestre consecutivo de expansão de dois dígitos e o sétimo semestre de crescimento contínuo.

Mesmo com questionamentos sobre a atividade americana e temores de possível compressão de margens das companhias, a magnitude dos beats de resultado (excedentes de lucro vs. o esperado) demonstrou resiliência:

  • Crescimento de Receita Mais Contido:
    O lado da receita, embora positivo, foi relativamente modesto. Das empresas presentes no S&P500, 62% superaram as estimativas de receita, um número abaixo da média de 5 anos (69%). No consolidado, o crescimento de receita foi de 4,8%.

  • Crescimento Superior vs. Estimativas:
    O crescimento de lucros de 13,4% é quase o dobro da projeção de 7,1% que o consenso dos analistas apresentava para o final de março. Consequentemente, 78% das empresas reportaram um EPS (earnings per share - lucro por ação) acima do consenso, um número superior à média de 5 anos (77%) e de 10 anos (75%). A magnitude da surpresa foi, na média, 8,5% acima do esperado.

Fonte: Factset. Acesso em 13/06/2025

A diferença do crescimento da receita, contra o crescimento de lucros de indica que grande parte do crescimento dos lucros veio da expansão de margens e eficiência operacional, não apenas do aumento das vendas.

Um dos aspectos mais interessantes desta temporada foi o comportamento do mercado, que demonstrou um viés otimista após as divulgações dos números. Para as empresas que superaram as estimativas de EPS, as ações subiram, em média, +1,9% (no período de 2 dias antes e depois do resultado). Estatisticamente, é o dobro da média dos últimos 5 anos (+1,0%). Mantendo o otimismo, para as empresas que frustraram as expectativas, a queda de preço média foi de -1,7%, no mesmo período, consideravelmente menor que a queda média de -2,3% dos últimos 5 anos.

Mas, afinal, por que a resposta do mercado foi tão positiva? A resposta passa por projeções positivas das próprias companhias, diferentemente do esperado. Embora a maioria das empresas tenha revisado as perspectivas de lucro para baixo (ainda acima do que o mercado esperava), a proporção de guidances positivos para o segundo trimestre - 2T25 - está acima das médias históricas em 45%, sinalizando confiança por parte das diretorias no crescimento de seus negócios.

Essa performance se torna ainda mais relevante por coexistir com múltiplos “esticados”, negociando a 20,5x P/E NTM (preço/lucro 12 meses à frente), acima das médias históricas de 5 anos (19,9x) e 10 anos (18,3x). Isso significa que existe um prêmio em relação ao preço dos ativos sobre a expectativa de crescimento durante o próximo ano, quando comparado à média histórica. O reflexo, em geral, é um price action (resposta dos preços dos ativos) mais sensível a surpresas negativas em lucros.

Fonte: Factset. Acesso em 13/06/2025

Desempenho Setorial

Olhando para os resultados de maneira agregada, fica evidente que o crescimento de lucros não foi uniforme, com uma divisão bem clara de setores expandindo e outros contraindo. Abaixo temos os 3 setores que mais cresceram e que retraíram nesta temporada de resultados:

Fonte: Factset. Acesso em 13/06/2025


Saúde (Health Care): +42,9%

É líder absoluto em crescimento, olhando ano a ano. Este número foi impulsionado por gigantes como Bristol Myers Squibb e Gilead Sciences. Sem o efeito dessas duas empresas, o crescimento do setor seria de mais modestos, mas ainda fortes, 9,5%. Olhando para os subsetores os destaques foram:1) Farmacêuticas, crescendo +124%; e 2) Biotecnologia, +71%.

Serviços de Comunicação (Communication Services): +29,1%

Alphabet (Google) e Meta Platforms foram as principais contribuintes, com seus resultados acima das expectativas. De acordo com a Factset, sem elas, o crescimento do setor cairia para 9,2%. 

Tecnologia da Informação (Information Technology): +17,4%

Continua sendo um pilar de crescimento estrutural. A indústria de Semicondutores, com um crescimento de lucros de +34%, foi o principal motor. Este setor também liderou o crescimento de receita, com uma expansão de 12,1%, mostrando uma demanda robusta e sustentada.

Energia (Energy): -12,7%

O grande “perdedor” da temporada. A queda nos lucros está diretamente ligada aos preços de petróleo mais baixos no trimestre, com destaque para Oil & Gas com uma queda de lucros de -104%.

Consumo Básico (Consumer Staples): -6,7%

O setor mostrou fraqueza em meio a um ambiente competitivo, indicando pressão sobre as margens. O resultado deixou evidente a estagnação do setor com um crescimento da receita quase nulo (+0,3%), e com dificuldade de entregar crescimento de lucros, uma vez que as margens seguem pressionadas.

Materiais (Materials): -2,5%

O setor também enfrentou um ambiente desafiador, com queda nos lucros, possivelmente refletindo uma demanda industrial global mais moderada e custos de insumos.

Olhando para o Futuro

A visão futura é um misto de cautela de curto prazo com otimismo de médio e longo prazo de acordo com os Guidances e Projeções. Das empresas que emitiram guidance, 55% o fizeram de forma negativa (abaixo do consenso), enquanto 45% o fizeram de forma positiva. Embora a maioria seja negativa, a proporção de guidances positivos é melhor que as médias de 5 e 10 anos, transparecendo confiança por parte do mercado.

Fonte: Factset. Acesso em 13/06/2025



Em relação às projeções de consenso para o restante de 2025, espera-se uma moderação no ritmo de crescimento dos lucros, com estimativas apontando para uma alta de 9,3%, abaixo dos 13% observados no primeiro trimestre. Essa desaceleração pode sinalizar uma possível correção, sustentada pela hipótese de que os resultados recentes foram parcialmente impulsionados por um movimento de antecipação de demanda e produção — um efeito pull-forward. Nesse cenário, consumidores e empresas teriam acelerado compras e atividades para se antecipar a possíveis tarifas, inflando os resultados do primeiro trimestre. No entanto, embora esse fenômeno possa explicar o desempenho de algumas companhias, não é aplicável a todo o índice de forma generalizada.

Independentemente das causas pontuais, a temporada de balanços trouxe à tona algumas dinâmicas estruturais importantes. A primeira delas é a crescente concentração do desempenho do índice em um número restrito de empresas, especialmente nos setores de Tecnologia e Saúde. Esse nível de concentração eleva o risco idiossincrático para os investidores, uma vez que o crescimento do S&P 500 está cada vez mais ancorado em poucos nomes. A segunda dinâmica é o embate entre fundamentos e valuation. Embora os resultados corporativos sigam robustos, os múltiplos de preço já refletem grande parte das boas notícias, criando uma tensão entre solidez operacional e exigência de entregas futuras.

Fonte: Factset. Acesso em 16/06/2025
Fonte: Factset. Acesso em 16/06/2025

A concentração excessiva de performance do índice, associado à narrativa macroeconômica americana e ao contexto geopolítico global, traz um reforço aos investidores, da importância da diversificação geográfica do portfólio, como elaboramos no relatório 8 Temas para investir nos próximos 8 meses.

Fonte: Factset. Acesso em 12/06/2025

Nesse contexto, surgem também oportunidades fora do consenso. O setor de Energia, por exemplo, embora tenha sido o de pior desempenho até aqui, apresenta o maior potencial de valorização segundo as estimativas de analistas, com um upside de 22%. Essa assimetria pode interessar a investidores dispostos a assumir mais risco, especialmente aqueles que acreditam em uma recuperação dos preços das commodities ou enxergam um excesso de pessimismo em relação ao setor.

Maiores e Menores Revisões de Lucro da Temporada

Fonte: Factset. Acesso em 16/06/2025
Fonte: Factset. Acesso em 16/06/2025

Nickolas Lobo

Analista de Research da Nomad, com 5 anos de experiência no mercado financeiro, com passagem pela Spectra, Banco Modal e mais de 3 anos trabalhando em equities globais, principalmente no mercado americano, na RXZ Investimentos. É graduado em Economia pelo Insper

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