por
Nickolas Lobo
7min
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Publicado em
24/6/2025
A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25) pode ser lida não apenas como forte, mas um evento que desafiou e superou amplamente o ceticismo do mercado. Em linhas gerais, a narrativa central é de um crescimento de lucros robusto, mas concentrado, superando as estimativas de forma expressiva. O crescimento consolidado de 13,4% nos lucros ano a ano representa o segundo trimestre consecutivo de expansão de dois dígitos e o sétimo semestre de crescimento contínuo.
Mesmo com questionamentos sobre a atividade americana e temores de possível compressão de margens das companhias, a magnitude dos beats de resultado (excedentes de lucro vs. o esperado) demonstrou resiliência:
A diferença do crescimento da receita, contra o crescimento de lucros de indica que grande parte do crescimento dos lucros veio da expansão de margens e eficiência operacional, não apenas do aumento das vendas.
Um dos aspectos mais interessantes desta temporada foi o comportamento do mercado, que demonstrou um viés otimista após as divulgações dos números. Para as empresas que superaram as estimativas de EPS, as ações subiram, em média, +1,9% (no período de 2 dias antes e depois do resultado). Estatisticamente, é o dobro da média dos últimos 5 anos (+1,0%). Mantendo o otimismo, para as empresas que frustraram as expectativas, a queda de preço média foi de -1,7%, no mesmo período, consideravelmente menor que a queda média de -2,3% dos últimos 5 anos.
Mas, afinal, por que a resposta do mercado foi tão positiva? A resposta passa por projeções positivas das próprias companhias, diferentemente do esperado. Embora a maioria das empresas tenha revisado as perspectivas de lucro para baixo (ainda acima do que o mercado esperava), a proporção de guidances positivos para o segundo trimestre - 2T25 - está acima das médias históricas em 45%, sinalizando confiança por parte das diretorias no crescimento de seus negócios.
Essa performance se torna ainda mais relevante por coexistir com múltiplos “esticados”, negociando a 20,5x P/E NTM (preço/lucro 12 meses à frente), acima das médias históricas de 5 anos (19,9x) e 10 anos (18,3x). Isso significa que existe um prêmio em relação ao preço dos ativos sobre a expectativa de crescimento durante o próximo ano, quando comparado à média histórica. O reflexo, em geral, é um price action (resposta dos preços dos ativos) mais sensível a surpresas negativas em lucros.
Olhando para os resultados de maneira agregada, fica evidente que o crescimento de lucros não foi uniforme, com uma divisão bem clara de setores expandindo e outros contraindo. Abaixo temos os 3 setores que mais cresceram e que retraíram nesta temporada de resultados:
Saúde (Health Care): +42,9%
É líder absoluto em crescimento, olhando ano a ano. Este número foi impulsionado por gigantes como Bristol Myers Squibb e Gilead Sciences. Sem o efeito dessas duas empresas, o crescimento do setor seria de mais modestos, mas ainda fortes, 9,5%. Olhando para os subsetores os destaques foram:1) Farmacêuticas, crescendo +124%; e 2) Biotecnologia, +71%.
Serviços de Comunicação (Communication Services): +29,1%
Alphabet (Google) e Meta Platforms foram as principais contribuintes, com seus resultados acima das expectativas. De acordo com a Factset, sem elas, o crescimento do setor cairia para 9,2%.
Tecnologia da Informação (Information Technology): +17,4%
Continua sendo um pilar de crescimento estrutural. A indústria de Semicondutores, com um crescimento de lucros de +34%, foi o principal motor. Este setor também liderou o crescimento de receita, com uma expansão de 12,1%, mostrando uma demanda robusta e sustentada.
Energia (Energy): -12,7%
O grande “perdedor” da temporada. A queda nos lucros está diretamente ligada aos preços de petróleo mais baixos no trimestre, com destaque para Oil & Gas com uma queda de lucros de -104%.
Consumo Básico (Consumer Staples): -6,7%
O setor mostrou fraqueza em meio a um ambiente competitivo, indicando pressão sobre as margens. O resultado deixou evidente a estagnação do setor com um crescimento da receita quase nulo (+0,3%), e com dificuldade de entregar crescimento de lucros, uma vez que as margens seguem pressionadas.
Materiais (Materials): -2,5%
O setor também enfrentou um ambiente desafiador, com queda nos lucros, possivelmente refletindo uma demanda industrial global mais moderada e custos de insumos.
A visão futura é um misto de cautela de curto prazo com otimismo de médio e longo prazo de acordo com os Guidances e Projeções. Das empresas que emitiram guidance, 55% o fizeram de forma negativa (abaixo do consenso), enquanto 45% o fizeram de forma positiva. Embora a maioria seja negativa, a proporção de guidances positivos é melhor que as médias de 5 e 10 anos, transparecendo confiança por parte do mercado.
Em relação às projeções de consenso para o restante de 2025, espera-se uma moderação no ritmo de crescimento dos lucros, com estimativas apontando para uma alta de 9,3%, abaixo dos 13% observados no primeiro trimestre. Essa desaceleração pode sinalizar uma possível correção, sustentada pela hipótese de que os resultados recentes foram parcialmente impulsionados por um movimento de antecipação de demanda e produção — um efeito pull-forward. Nesse cenário, consumidores e empresas teriam acelerado compras e atividades para se antecipar a possíveis tarifas, inflando os resultados do primeiro trimestre. No entanto, embora esse fenômeno possa explicar o desempenho de algumas companhias, não é aplicável a todo o índice de forma generalizada.
Independentemente das causas pontuais, a temporada de balanços trouxe à tona algumas dinâmicas estruturais importantes. A primeira delas é a crescente concentração do desempenho do índice em um número restrito de empresas, especialmente nos setores de Tecnologia e Saúde. Esse nível de concentração eleva o risco idiossincrático para os investidores, uma vez que o crescimento do S&P 500 está cada vez mais ancorado em poucos nomes. A segunda dinâmica é o embate entre fundamentos e valuation. Embora os resultados corporativos sigam robustos, os múltiplos de preço já refletem grande parte das boas notícias, criando uma tensão entre solidez operacional e exigência de entregas futuras.
A concentração excessiva de performance do índice, associado à narrativa macroeconômica americana e ao contexto geopolítico global, traz um reforço aos investidores, da importância da diversificação geográfica do portfólio, como elaboramos no relatório 8 Temas para investir nos próximos 8 meses.
Nesse contexto, surgem também oportunidades fora do consenso. O setor de Energia, por exemplo, embora tenha sido o de pior desempenho até aqui, apresenta o maior potencial de valorização segundo as estimativas de analistas, com um upside de 22%. Essa assimetria pode interessar a investidores dispostos a assumir mais risco, especialmente aqueles que acreditam em uma recuperação dos preços das commodities ou enxergam um excesso de pessimismo em relação ao setor.
Nickolas Lobo
Analista de Research da Nomad, com 5 anos de experiência no mercado financeiro, com passagem pela Spectra, Banco Modal e mais de 3 anos trabalhando em equities globais, principalmente no mercado americano, na RXZ Investimentos. É graduado em Economia pelo Insper
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