por
Paula Zogbi
Danilo Igliori
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Publicado em
7/10/2025
Quando a expectativa é muito elevada, a decepção também pode ser. Desta vez, não foi o caso - pelo menos até o momento.
Setembro marcou o tão aguardado (e previamente precificado) primeiro corte de taxa de juros de 2025 pelo Federal Reserve, banco central americano. Mais que a mudança da taxa de juros em si, o mercado comemorou a postura do Fed de indicar outros dois cortes ainda este ano, e passou a precificar um terceiro corte neste ciclo, em 2026. Mas será que estamos indo com muita sede ao pote?
Conforme o Fed sinalizou, o espaço para o corte foi aberto pelo enfraquecimento do mercado de trabalho, especialmente após revisões mostrarem que a desaceleração se prolonga desde 2024. Mas, se os movimentos para o final de 2025 já estão praticamente certos, os passos para 2026 não são nada óbvios: a persistente inflação acima da meta dificulta a tomada de decisão pelo Fomc, que está dividido em suas projeções, já que pressões nos preços podem demandar juros mais elevados.
Resumindo em poucas palavras: a magnitude dos cortes de juros em 2026 que estão implícitas nas apostas do mercado pode não se materializar. E as consequências viriam em forma de volatilidade, já que o rali atual da bolsa, que subiu mais de 30% desde as mínimas em abril, se apoia especialmente em nomes sensíveis ao custo de capital, como empresas de tecnologia e crescimento.
Além disso, a guerra comercial voltou à pauta nas últimas semanas, em forma de tarifas de 100% sobre remédios patenteados, além de outras ameaças e efetivações de novas taxas. Muitos acordos ainda estão em discussão e podem trazer novas tensões. Neste cenário, é provável que haja alguma retração temporária do mercado, em um movimento de realização dos lucros em meio às incertezas.
Mas, de forma geral, o prognóstico ainda é positivo. Estamos entrando em um trimestre que, historicamente, apresenta retornos positivos para a bolsa americana. Os resultados corporativos recentes mostraram boa saúde das companhias e os juros efetivamente mais baixos tendem a otimizar os negócios, enquanto os ganhos potenciais com inteligência artificial permanecem empolgando. Para quem tem apetite, ficar de fora das oportunidades pode não compensar - desde que a proteção da carteira esteja em dia, com diversificação de teses, ativos livres de risco e foco no longo prazo.
Paula Zogbi
Estrategista-chefe da Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.
Danilo Igliori
Economista-chefe da Nomad. Professor do Departamento de Economia da FEA-USP, PhD pela Universidade de Cambridge. Foi um dos fundadores da DataZAP, no Brasil já atuou em empresas como BTG Pactual, Unibanco, Vale, Grupo Zap e OLX, e atuou como consultor em agências internacionais (Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento).