por
Bruno Shahini
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Publicado em
26/5/2025
O dólar sobe no mercado à vista refletindo a preocupação dos investidores com o quadro fiscal brasileiro, especialmente após o anúncio do aumento do IOF sobre crédito, seguros e câmbio, que ofuscou o contingenciamento de R$ 31,3 bilhões no orçamento — visto inicialmente como positivo. A retirada do aumento do IOF sobre fundos e comércio exterior amenizou o movimento, assim como a queda global do dólar e dos juros dos Treasuries, influenciados por tensões entre EUA e União Europeia.
Economistas apontam que, apesar do esforço fiscal, o governo opta por aumentar a arrecadação em vez de enfrentar o crescimento das despesas, o que gera insegurança tributária e ruído no mercado. Além disso, falhas na comunicação das medidas aumentaram a desconfiança. A perspectiva é de que, mesmo com os ajustes, o governo cumpra a meta fiscal de 2025 com dificuldade e déficit de 0,6% do PIB.
Os mercados de Treasuries seguem sendo o principal foco do mercado, com alguma estabilização nas taxas das pontas longas após o aumento expressivo dos yields ocorrido na quarta-feira. Essa acomodação ajudou a sustentar um tom mais positivo nos índices acionários americanos na sessão de hoje. No entanto, a narrativa da reversão da "excepcionalidade americana" e o contínuo aumento do déficit fiscal dos EUA permanecem como os principais fatores por trás das pressões altistas sobre os juros, somando-se ainda à inflação persistente e aos indicadores econômicos fortes. A aprovação pela Câmara do pacote tributário republicano reforça essas preocupações, já que poderá elevar significativamente a dívida pública americana.
Nesse contexto, o dólar registrou queda ante o real durante a tarde, beneficiado pela entrada de fluxo cambial. Parte desse movimento reflete uma melhora nas perspectivas econômicas brasileiras após recomendações mais otimistas de bancos americanos como o Morgan Stanley, que elevou a recomendação para ações brasileiras de neutro para overweight, e o Goldman Sachs, que aumentou suas previsões para o PIB do país.
Os mercados financeiros estão refletindo fortemente as preocupações fiscais nos Estados Unidos. As discussões sobre um projeto fiscal envolvendo cortes de impostos e aumento de gastos têm pressionado os juros dos títulos do Tesouro (Treasuries), provocando recuo nos principais índices acionários em Nova York. Adicionalmente, o recente rebaixamento da nota de crédito dos EUA, embora com pouco efeito prático imediato, acionou um alerta sobre a trajetória do endividamento americano. Apesar da alta expressiva nos rendimentos das Treasuries, com o juro de 30 anos subindo mais de 10 pontos-base, observa-se até de forma surpreendente uma queda global do dólar, com o índice DXY retornando para abaixo dos 100 pontos. Nesse contexto, o real apresenta uma leve valorização devido ao elevado patamar da Selic, a fraqueza do dólar a nível global e ao fluxo de investimentos estrangeiros direcionados a bolsa e a renda fixa nesse mês.
O dólar iniciou a tarde em queda no mercado à vista, refletindo a desvalorização global da moeda americana após o rebaixamento do rating dos EUA pela Moody’s, de Aaa para Aa1 — movimento que, apesar de simbólico e com efeitos práticos limitados é quebra de uma tradição observada desde 1919. A sessão foi marcada pela fraqueza do dólar no exterior o que beneficiou o real, que também encontrou suporte em falas do presidente do Banco Central sobre responsabilidade fiscal e manutenção dos juros em patamar elevado por mais tempo.
Em paralelo, a possibilidade de estímulos adicionais na China e os sinais de recuperação da atividade econômica no país asiático contribuem para melhorar a percepção sobre ativos emergentes, incluindo o Brasil. A valorização do real pode ganhar tração adicional nas próximas semanas, caso os desfechos das negociações comerciais entre China e EUA mantenham sinais positivos, favorecendo a entrada de recursos em mercados emergentes
Mesmo com a ausência de dados econômicos e uma agenda fraca, o mercado adotou um tom mais otimista nesta sexta-feira. Nesse contexto, o dólar ganhou força frente às principais moedas de países desenvolvidos, refletido no avanço do índice DXY. Ainda assim, o real operou na contramão do movimento internacional, registrando valorização frente à moeda americana.
A queda inesperada do índice de preços ao produtor (PPI) dos Estados Unidos, somada ao recuo da atividade industrial e à retração nas vendas no varejo — todos divulgados ontem — contribuiu para uma reprecificação das expectativas em relação aos juros de curto prazo pelo Federal Reserve. Esse cenário beneficia o Brasil, onde a taxa Selic permanece em patamar elevado, sustentando o diferencial de juros e atraindo fluxo estrangeiro para os ativos locais.
Bruno Shahini
Com 9 anos de experiência no mercado financeiro, atuou na Votorantim Asset e no Banco Daycoval, é economista formado no Insper e possui as certificações CFP® (Certified Financial Planner) e CGA (Gestão de Carteiras ANBIMA)
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