por
Paula Zogbi
Danilo Igliori
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Publicado em
14/7/2025
Aos 45 minutos do segundo tempo do primeiro semestre de 2025, as bolsas americanas retomaram seus recordes históricos. O jogo foi intenso, com chances fortes para ambos os times: de um lado, o pessimismo e a volatilidade constante; do outro, o otimismo e apetite por risco que motivaram valorizações expressivas em 2024 e 2023. A virada começou em maio, como mencionamos na edição anterior desta carta, motivada por uma visão mais construtiva sobre as políticas comerciais, resultados corporativos fortes e a força da tese da IA. Desde então, o mercado assumiu a postura ofensiva, na esperança de que o pior havia passado, e seguiu espantando os efeitos da incerteza ligada às políticas econômicas do novo governo.
Só que estas incertezas não estão oficialmente superadas. O Banco Mundial projeta um crescimento de 2,3% do PIB global em 2025, que corresponderia ao mais fraco aumento dos últimos 17 anos, excluindo recessões. Nos EUA, a dívida pública está nas máximas históricas e as políticas econômicas em discussão devem gerar mais renúncias fiscais, enquanto o posicionamento do governo sobre temas geopolíticos e econômicos continua imprevisível. Paralelamente, por mais que alguns acordos comerciais tenham sido bem-sucedidos, as tarifas ainda não estão totalmente definidas e, mesmo em seus níveis mais otimistas, podem pressionar a inflação e prejudicar os resultados de empresas em determinados setores.
Como resultado, o dólar vem contando uma história diferente das bolsas: indicando alguma perda de credibilidade do país, com desvalorização de 10,8% do DXY no acumulado do ano. Taticamente, o mercado americano pode ter posicionado os 11 jogadores no campo de ataque, só que os ofensores do time adversário estão de olho no lance.
Neste contexto, acreditamos que o potencial de crescimento no longo prazo continua sendo um dos pontos fortes da economia americana, que ainda se apresenta como o ambiente mais propício para a evolução de teses que devem moldar os mercados nos próximos anos, como a Inteligência Artificial. Também achamos improvável que o dólar deixe de ser a moeda de referência global no futuro visível, ainda que perca mais algum espaço para outros players, como o Euro. Mas também destacamos a importância de manter uma alocação equilibrada, com ataque e defesa bem posicionados em todos os cantos do campo.
Os “goleiros” e “zagueiros” do mercado se mostraram eficientes em desarmar a volatilidade até aqui. O ouro acumula valorização de quase 30% no ano, a renda fixa segue com taxas atrativas e setores defensivos apresentaram desempenho positivo na bolsa em janelas de maior aversão ao risco. Apesar do fluxo intenso rumo à tomada de risco nos últimos meses, mantemos a visão de que a melhor escalação disponível ainda deveria contar com uma defesa reforçada, evitando dar os três pontos de bandeja para a volatilidade.
Saiba mais na nossa carta mensal de investimentos.
Paula Zogbi
Estrategista-chefe da Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.
Danilo Igliori
Economista-chefe da Nomad. Professor do Departamento de Economia da FEA-USP, PhD pela Universidade de Cambridge. Foi um dos fundadores da DataZAP, no Brasil já atuou em empresas como BTG Pactual, Unibanco, Vale, Grupo Zap e OLX, e atuou como consultor em agências internacionais (Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento).
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