por
Nickolas Lobo
Danilo Igliori
3 min
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Publicado em
23/5/2025
A trajetória fiscal dos Estados Unidos tem sido motivo de crescente atenção entre analistas e formuladores de políticas ao redor do mundo. A dívida pública americana, que ultrapassou os 33 trilhões de dólares em 2024, continua a crescer em ritmo superior ao do PIB, com déficits persistentes mesmo em um cenário de pleno emprego. Diante disso, surgem previsões alarmistas. O questionamento, então, recai sobre se o panorama justifica esse grau de preocupação. A resposta, como quase sempre na economia, é: depende.
Os números preocupam. Os gastos obrigatórios — especialmente Previdência e Saúde — crescem mais rápido do que a arrecadação. Os juros da dívida, impulsionados pelas taxas mais altas do Federal Reserve, já consomem parcela relevante do orçamento. E os déficits projetados para os próximos anos não indicam reversão dessa tendência no curto prazo.
No entanto, é essencial colocar essa situação em perspectiva. Primeiro, os EUA ainda contam com atributos que a maioria dos países não possui: emitem a principal moeda de reserva global, atraem demanda constante por seus títulos e detém credibilidade institucional construída ao longo de décadas. Isso lhes confere um grau de flexibilidade maior que o de outras economias, e embora os primeiros meses do novo governo tenham elevado a incerteza sobre a evolução da economia americana no curto prazo, ainda é um fator que se posiciona de maneira favorável aos EUA.
Segundo, o panorama fiscal global também é desafiador. O Japão, por exemplo, carrega uma dívida pública superior a 260% do PIB, com os EUA em 120%. Países europeus como Itália (135% - com um pico de 150% em 2020) e França (116%) enfrentam limitações fiscais importantes, com margens estreitas para acomodar choques. A elevação dos níveis de endividamento é, em grande parte, uma herança da resposta à pandemia — uma escolha necessária à época para evitar uma depressão global. A solução relacionada a esse cenário seria com reformas fiscais estruturais que visem conter o crescimento dos déficits, seja pelo lado da receita, com ajustes tributários, ou do gasto, com revisão de programas serão essenciais para preservar a confiança de longo prazo na solvência do governo americano.
A situação fiscal dos EUA não está boa, mas deve ser analisada em um contexto mais amplo, onde diversos países enfrentam dilemas semelhantes. Evitar o excesso de complacência sem recorrer ao pessimismo exagerado é o equilíbrio necessário para tratar do tema com a seriedade que ele merece, e embora a situação requeira atenção, não há motivo para pânico, mas sim cautela.
Nickolas Lobo
Analista de Research da Nomad, com 5 anos de experiência no mercado financeiro, com passagem pela Spectra, Banco Modal e mais de 3 anos trabalhando em equities globais, principalmente no mercado americano, na RXZ Investimentos. É graduado em Economia pelo Insper
Danilo Igliori
Economista-chefe da Nomad. Professor do Departamento de Economia da FEA-USP, PhD pela Universidade de Cambridge. Foi um dos fundadores da DataZAP, no Brasil já atuou em empresas como BTG Pactual, Unibanco, Vale, Grupo Zap e OLX, e no Reino Unido, em agências internacionais como Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento.
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